quarta-feira, 15 de junho de 2011

ALÉM DA NOVELA - QUANDO NÃO HÁ CANÇÃO, É A CANÇÃO DE VALE TUDO


Quem me conhece sabe, sou um noveleiro de plantão. Desde pequeno tive interesse em assistir as tramas exibidas em todas as faixas de horário. Ultimamente, a safra anda muito ruim.  Há pouco tempo, a Veja publicou uma crítica ao realismo que funcionava antigamente em novelas como Vale Tudo e que hoje já não dá mais leite. Será que é o momento de abandonar as fórmulas do realismo e criar tramas fantasiosas como aconteceu em Fera Ferida e Roque Santeiro?

Enquanto os autores não se decidem sobre essa crise noveleira, eu tenho curtido boas horas no Canal Viva e tive a chance de assistir a reprise um dos melhores folhetins de todos os tempos: Vale Tudo. A novela foi ao ar num momento muito crítico para os brasileiros, o país estava em crise econômica e em processo de redemocratização. Obviamente, a trilha-sonora da novela refletia também esse momento, sem deixar de lado os grandes hits internacionais dos anos 80.

A abertura da novela trazia uma das mais inspiradas composições de Cazuza, Brasil, na voz de Gal Costa. Provavelmente quando a novela foi ao ar, em um Brasil que procurava respirar um pouco de democracia, o grito de Gal era sempre um momento de protesto. Hoje o que parece ser apenas um powerpoint mal feito, representava um avanço tecnológico muito grande.

Outra música representativa para o momento em que o país vivia era É do saudoso Gonzaguinha. “A gente não tem cara de panaca/A gente não tem jeito de babaca” diziam os versos da canção, que demonstrava tudo o que sentia uma nação reconstruindo um país. Era como uma resposta de Raquel Accioli, uma brasileira batalhadora, a toda arrogância dos empresários sem escrúpulos como Odete Roitman e Marco Aurélio.

Em contrapartida a tanto protesto, os hits dos anos 80 embalavam as cenas não políticas da novela. Tracy Chapman, que por muito tempo me enganou, porque eu achava que era um homem, começava a cantar Baby Can I Hold You sempre que Raquel e Ivan tinham seus momentos longe das garras de Odete. Cenas nada raras.

A maior vilã de todos os tempos, não poderia deixar sua sofisticação de lado e sua música tema era cantada em francês, Il Faut Savoir em uma interpretação de Charles Aznavour. Sua filha, Heleninha, não deixava por menos e tinha suas cenas embaladas pela italiana Ornella Vanoni cantando Me In Tutto Il Mondo.

Por fim, além de tantas outras, ainda podíamos ouvir George Michael com Father Figure e Sade com Paradise, sempre presentes nas famosas cenas de “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”.

Já está chegando o fim de Vale Tudo no Canal Viva. Vou sentir saudades dessa festa pobre que os homens armaram pra me convencer.

Tiago Vaz

Um comentário:

  1. Eu que nasci nos 90's ouvindo a frase "Quem matou Odete Roitman?" estou podendo acompanhar esta novela que nunca será superada na televisão brasileira.

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