Meus pêsames. Como todos que têm televisão sabem, faleceu ontem nesta Cidade a senhora Odete Roitman. Assunto bem mais noticiado do que o pacto social, a hiperinflação, o terremoto de Angra, a classificação do Flamengo para o remoto final da Copa União, a interminável greve da Prefeitura do Rio de Janeiro e as continuadas mortes no samba. Uma ficção que ganhou longe da realidade.
Por obra e graça de uma boa história, foi um golpe de mestres a criação de uma vilã fina, capaz de dizer muitas verdades sobre o Brasil sem comprometer o patriotismo de autores e mocinhos, e de outra deslumbrante interpretação de Beatriz Segall, que soube sempre dar a seu personagem o tom justo de maldade, afetação e algumas tintas emocionais. Continuo achando uma solução simples demais o assassinato da figura, com a conseqüente banalização da trama e, pecado máximo, o desaparecimento, nem que seja por poucos capítulos, de uma das melhores atrizes de Vale Tudo. Todos a queriam até o fim.
Pois virou até adjetivo. Conheço uma senhora que se arrumou toda e finíssima, e muito bem produzida foi esperar sua carona numa rua de Copacabana. Três pivetinhos ficaram assombrados com a elegância dela. Sem a agressividade de um assalto, rodearam bem a figura, e um deles exclamou, num misto de xingamento e admiração: Odete Roitman!
É a glória. Mesmo sendo passageira é consagradora para os autores e, principalmente, para a atriz que a interpretou. Não sei quanto ganha Beatriz Segall, mas merecia o melhor salário da Rede Globo pela humanidade fornecida a um personagem-chavão, que por sua obra e graça virou gente.
Algumas fazem restrições a Beatriz Segall, afirmando ser ela atriz de uma nota só. Especialista em mulheres elegantes e más. Não concordo com estas afirmações. É lógico que seu tipo físico, como acontece com qualquer intérprete, limite seu raio de ação. Ela realmente não convence como mulher do povo por suas feições finas e natural elegância. Mas não lhe cabe culpa pelo fracasso do ingrato papel de mãe da Carmem em recente novela da Manchete. Ninguém poderia salvar papel de tamanha inconsistência.
Quando tem alma, ela se sai muito bem. Acho deslumbrante sua interpretação na peça teatral O Manifesto, junto a um igualmente exato Cláudio Correa e Castro. Em televisão não deixou traço sua estréia em Angústia de Amar, na Tupi, na qual os personagens principais eram Aracy Balabanian e o estreante Cecil Thiré. Mas na Globo se fez notar. Principalmente em Água Viva, numa Lourdes Mesquita que também fez história.
Não foi aprovada para fazer a Stela Simpson, trocou com Tônia Carrero e ambas brilharam. Não teve grandes oportunidades na Bandeirantes, e nos últimos folhetins da líder. Até Odete Roitman. Seu nome ficou mais conhecido do que o da história. Com justiça, pois foi nela que o povo melhor reconheceu o retrato mais perfeito e acabado da elite brasileira. Um momento inesquecível de atriz.
Por Maria Helena Dutra
Jornal O Dia
25/12/1988
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