segunda-feira, 27 de junho de 2011

O CRIME DO ANO

A morte de Odete Roitman vai ao ar amanhã

Os tiros foram dados por uma pessoa que estava dentro do apartamento. Perfuraram a porta de vidro que separa a sala do corredor - e que ela abria naquele exato momento - e se alojaram entre seu peito e abdômen. O impacto fez com que se encostasse na parede do corredor. O corpo foi deslizando até que, praticamente sentada, morreu. Chamados pelo porteiro do prédio - que, avisado por uma vizinha que ouviu os estampidos, arrombou a porta do apartamento -, no Leme, os policiais e peritos constataram as três perfurações e o delegado, afastando qualquer sus peita de suicídio, anunciou, tenso, o assassinato. Com a blusa de seda verde-claro encharcada de sangue, a proprietária da empresa de aviação TCA, Odete Roitman, faz assim sua última aparição na novela "Vale Tudo", da TV Globo. A última tomada de seu rosto, porém, ainda é mais dramática: através do zíper de um saco plástico negro, apropriado para envolver o corpo, fechado abruptamente.


Com a morte gravada terça-feira passada - mas que só vai ao ar no dia 23 -, resta agora a chave do drama: afinal, quem matou Odete Roitman? O mistério criado em torno do assassino da proprietária da TCA é a grande mola de excitação dos últimos momentos da novela - e não só do público, como do próprio elenco. A cena dos tiros ainda não foi programada e, segundo a produtora de arte da novela, Cristina Médici, não será nem mesmo na próxima semana. Ou seja, a dúvida continua no ar.

Enquanto isto, para ontem à noite, numa externa no Leme, estava prevista a tomada de um César espantado, no meio da multidão, observando toda a movimentação de carros policiais diante do prédio de Odete. A gravação de sua morte foi "difícil, demorada e elaborada", já que foram necessários dois tipos de efeitos especiais, conta Cristina Médici:

- Na própria Odete e no vidro da porta. Para representar Odete, Beatriz Segall colocou um colete com três saquinhos que continham pólvora e sangue, liga dos a uma maquineta elétrica. Com o estampido, uma linha estoura, dando o efeito do rasgão na roupa e saindo pólvora e sangue. Já no vidro são os três furos, pois os tiros passam por, ele para atingir Odete.

O clima tenso do enredo invadiu o estúdio e perdurou pelo longo período de gravação toda uma tarde, "para que todos os detalhes fossem bem realizados", observa a produtora de arte. Para a cena da morte foram feitas quatro roupas iguais - além da blusa de seda, uma saia preta pregueada ''para o caso de necessidade", diz Cristina, alegando que foram proibidas fotos do assassinato no momento da gravação. Só não explicou o que fazia na própria cena o fotógrafo que acompanhava o perito que examinou o corpo de Odete Roitman.

Por Isabel Cristina Mauad
Jornal O Globo
19/12/1988

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