Quando Vale Tudo foi exibida pela primeira vez em 1988 eu tinha apenas cinco anos. Sim, era muito novo, mas como uma boa criança nascida em São Paulo nos anos 80 e moradora de apartamento, a televisão se tornou minha melhor babá. E foi graças à trama de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres, à Bebê a Bordo e Fera Radical, novelas das 19hs e 18hs exibidas na mesma época, que minha paixão pelas telenovelas começou a tomar forma.
Lembro como me chamava à atenção os embates entre Raquel (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Glória Pires), e a maneira fria como Odete (Beatriz Segall) tratava seus filhos. Como podia uma filha trair a mãe daquela forma? E porque Odete não demonstrava tanto afeto por Afonso? Reformulando a pergunta 22 anos depois: que amor era esse, tão anunciado pela vilã e capaz de tamanho egoísmo e crueldade, que chega ao seu auge quando seu romance com César (Carlos Alberto Ricceli) vem à tona? “A mulher com quem você ficou casado por quase dois anos saiu lá da cidadezinha dela pra seguir o César, essa criança infeliz a que ela deu a luz é do César. Reconheça, portanto que, ou bem alguma qualidade como homem ele tem, ou bem, quem não tem qualidade nenhuma é você.”... Para uma criança completamente apaixonada pela mãe aquilo era forte e impactante demais. Deixando de lado a forte ação dramática de Vale Tudo, a novela também me marcou em vários outros aspectos: quem não se apaixonou pelo visual contemporâneo e pelo comportamento decidido da “cherrie” Solange Duprat (Lídia Brondi)? Quem não se emocionou só em ouvir os primeiro acordes de “Faz parte do meu show” embalando o complicado caso de amor de Afonso e Solange? E para deixar essa lembrança com mais ares de nostalgia e mistério, a música era cantada por um ídolo da música brasileira que definhava em rede nacional devido uma doença que ninguém falava direito qual era.
Passados quatro anos, Vale Tudo foi reprisada no Vale a pena ver de novo e, aí sim, posso dizer que eu ASSISTI a novela. Vale Tudo é um desses casos na teledramaturgia em que tudo deu certo: escalação bem feita, elenco enxuto e afinado, direção madura de um jovem e competente Dennis Carvalho, e o principal, um texto inteligente e ágil. Fatos se apresentavam, desenvolviam e chegavam ao seu desfecho, semana após semana, dando ganchos a outros fatos. Isso entrelaçava ainda mais os personagens e evitava as famosas “barrigas”, chegando a um dos maiores clímax da história das telenovelas no país, o famoso “Quem matou Odete Roitman?”. Acima de tudo, a novela “calhou” de ir ao ar bem na época da votação da constituinte. O país precisava de uma boa orientação depois dos anos escuros da ditadura e nesse momento era no mínimo curiosa a pergunta: vale a pena ser honesto no Brasil? A população brasileira dos anos 80 estava completamente desacreditada e pessimista em meio a tantos planos econômicos naufragados e inflação galopante. Já durante a reprise de 1992 que tanto mexeu comigo, ainda assistiria no Jornal Nacional um irmão acusando o outro, que era presidente da república, de ter roubado todo o dinheiro do país e um monte de gente do lado de fora, pintado e gritando! Depois a Juma Marruá fica com o coração da verdadeira mulher do César Ribeiro e, logo em seguida, entrava no ar uma minissérie do mesmo autor de Vale Tudo em que a Fera Radical não sabia se amava ou se brigava com o Afonso. Usando uma música que sei que Gilberto Braga gosta: “Que país é esse?”.
Foi então que o Canal Viva, que já havia me conquistado com suas programação repleta de outros sucessos, nos brinda com mais uma reprise desse fenômeno da TV Brasileira. Sou uma daquelas pessoas que em todas as enquetes ou conversas sempre votava em Vale Tudo como a melhor novela já produzida no país. Senão a melhor, pelo menos uma das cinco melhores. Não menos do que isso. Então, imaginem a minha alegria ao ter de volta os porres de Heleninha (Renata Sorrah), a franja de Lídia Brondi, as grandes tiradas de Odete, a vilã mais mocinha de todos os tempos – Mª de Fátima, a tal música do Cazuza, a música da Tracy Chapman, do George Michel. E mesmo sendo uma reprise em um canal fechado, Vale Tudo voltou a ocupar espaço na mídia e nas conversas, agora com um reforço especial das redes sociais. É só conferir os TT’s do Twitter e as reações dos noveleiros de plantão durante a exibição de um capítulo. Tudo isso levou a novela à liderança isolada do horário na TV fechada.
Estou órfão nesse momento. Gostaria que Vale Tudo fosse o nosso “Chaves”, o nosso “Friends”, exibida e reprisada continuamente. Gosto de Porcina, Lulu e Tânia, mas prefiro Raquel, Leila (Cássia Kiss) e Solange. Sei que a internet e o youtube estão aí para atenderem aos meus desejos. Mas gosto é de novela diária, com uma última cena forte que me faz pensar na trama até o dia seguinte, da sensação de saber que milhões de pessoas estão vendo a mesma coisa que eu e que amanhã todos vão comentar. Novela é uma paixão nacional, assim como carnaval, cerveja e futebol e é por isso que me permito ser passional aqui. Não me venham com remake, porque condições ideais de pressão e temperatura como os alcançados em Vale Tudo é igual raio, não cai duas vezes no mesmo lugar!
Rafael Delfino Tupinambá / Rio de Janeiro
A novela Vale tudo marcou muito minha vida. Eu tinha 12 anos quando a novela passou em 1988. Me lembro dessa época como se fosse ontem, a moda das ombreiras, o corte de cabelo, a saia balonê, as músicas. O momento que o Brasil passava. Em outubro de 88 eu fui com minha família para viver na Espanha por causa da situação política do Brasil e estava desesperada pois ia perder a novela. Não queria ir de jeito nenhum. Na sala vip do aeroporto estava passando a novela e me lembro bem da cena que era a sabotagem contra a Paladar, empresa da Raquel, fiquei frustrada porque não iria ver o desfecho da história. Naquela época não havia internet e pedi desesperadamente que a minha tia me enviasse cartas toda a semana me contando sobre a novela, ela tirava xerox das revistas e eu esperava ansiosamente para saber o que estava acontecendo. Minha viagem para a Espanha não deu certo e quando meu pai comunicou depois de 3 meses que iríamos voltar, logo pensei: “ Vou poder ver Vale Tudo”. Hoje com 35 anos me lembro de cada detalhe, de como era a minha vida com 12 anos. É um flashback diário. Que saudades.
Renata SallesSão Paulo/SP
É maravilhoso poder ver esse grande sucesso da teledramaturgia brasileira. O que me impressiona é comprovar que o texto do autor Gilberto Braga permanece atual. O Brasil de hoje ainda não mostrou a sua cara. Todos os dias surgem notícias de corrupção, mandos e desmandos, acordões e as mais variadas formas de usurpar os bens do povo brasileiro. A única ressalva, 23 anos depois é a inflação. Esse fantasma que assombrava tanto está adormecido, pelo menos por enquanto. O melhor de tudo isso é me teletransportar para aquela época de forma cosciente. Tinha apenas 03 anos de vida quando a novela foi exibida originalmente e, hoje, acompanhar a trama sentindo cada uma de suas emoções com lucidez é maravilhoso. Melhor ainda é poder interagir através do fantástico mundo da internet e ter a oportunidade de acompanhar o desenrolar da história através do blog. Me sinto em 1988, lendo a revista Contigo! para saber o que vai acontecer no capítulo seguinte. Não tinha TV por assinatura e aderi assim que soube da estreia do Canal Viva. Desde então não perdi um capítulo de Vale Tudo e não deixei de entrar um só dia no blog. É um vício prazeroso. Antes eu só ia para a cama depois do Jô. Hoje, posso dizer que só vou para a cama com a Odete e companhia, mesmo tendo que acordar cedo no dia seguinte. Parabéns aos idealizadores do blog pela iniciativa de nos presentear com um acervo tão rico e contagiante. Espero que os arquivos da novela sejam preservados para podermos matar as saudades sempre que desejarmos. Eu amo Vale Tudo! Ronaldo Miranda Natal-RN |
realemnte...impossivel fazer remake de Vale Tudo hj! como eu vi em um video no youtube nos comments: "iam querer botar uma atriz jovem de malhação pra fazer a Maria de Fátima!!!" insano!
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