Considerados por muitos, a parte mais frívola do jornalismo, fazer colunismo social é uma arte. Congrega todas as características do bom jornalismo e ainda consegue transformar em notícia acontecimentos de uma restritíssima parcela da população. O pessoal de Vale Tudo que o diga, afinal não há quem não leia as colunas de Ibrahim Sued e a coluna Swan. E para se fazer uma boa coluna social são necessários apuração precisa e ainda capricho no estilo de escrita, além de conseguir agregar leveza e capacidade de síntese. Não é para qualquer jornalista.
Ninguém ficou mais conhecido no colunismo social do Ibrahim Sued (falecido em 1995). Sua coluna, Zum Zum foi um marco nesse estilo do jornalismo, começando a ser publicada ainda em 1950. Foram mais de 40 anos tratando do que havia de mais alto no high society do Rio de Janeiro, intercalando com informações sobre política e economia.
A pesquisadora Isabel Travancas destaca que “ao longo desses 45 anos de jornalismo, a coluna de Ibrahim Sued retratou a sociedade carioca, o Brasil e o mundo. Ela foi um reflexo da sociedade e a sociedade se refletiu nela também. Podemos acompanhar através dela alguns fatos marcantes de todos esses anos. As mudanças da moda e dos comportamentos, as festas e viagens, os personagens criados pelo colunista como a Dama de Preto, das gírias e expressões como ``bonecas e deslumbradas'', ``vagões e locomotivas'', ``su'', ``ademã'', ``kar'', ``shangay'', ``cavalo não desce escada'', `` em sociedade tudo se sabe'', ``sorry periferia'', ``padres de passeata''; as campanhas que incentivou, os astros internacionais que convidou para participar do Carnaval carioca, os desfiles de moda que promoveu e a cidade que tanto defendeu.”
Ibrahim chegou a participar dos primeiros capítulos de Vale Tudo, na festa de aniversário da Revista Tomorrow. Até Fátima (Glória Pires) conseguiu ser apresentada a ele.
E esse tipo de colunismo fez escola. O jornal O Globo publicou por muitos anos a Coluna do Swan. E por lá, passaram grandes jornalistas e que hoje são referências como Ricardo Boechat e Élio Gáspari. A coluna também fez escola com seu jeito rápido e objetivo de informar. Certamente, discípulos de Sued.
O colunismo social tem um peso de frivolidade. E não há mal algum em reportar um estilo de vida mais leve. Ao mesmo tempo, para ser um bom colunista é preciso fazer tudo que um bom jornalista faz. Ter boas fontes, ir atrás das notícias, cultivar um estilo e, sobretudo credibilidade.
Travancas lança mão do próprio Sued para explicar a importância que o gênero alcançou: “Ninguém pode negar que o colunismo na imprensa brasileira é uma especialidade imprescindível nos tempos atuais. E para este colunista isto constitui uma vitória que agora é reconhecida por todos, inclusive por aqueles que tanto nos combatiam. Contribuímos para transformar esse gênero do jornalismo, que até então era um simples `bico' para aqueles que o praticavam em uma profissão honesta, honrada e valiosa dentro da nossa imprensa.''
Assista abaixo um vídeo compilando algumas das entrevistas feitas por Ibrahim Sued para o Fantástico na década de 70.
Colaborou
Cássia Ferreira Andrade - jornalista
cassia.ferreira.andrade@gmail.com