terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ALÉM DA NOVELA - NOVOS MODELOS, VELHOS MÉTODOS

As novelas podem ser consideradas um termômetro de seu período histórico. Hora antecipando comportamentos, hora replicando o modo como a sociedade pensa e age, elas funcionam quase como a vida real, temperada com uma grande dose de fantasia. Vejamos o exemplo de Vale Tudo. Escrita, naquele que talvez seja um dos mais importantes momentos da história política do Brasil, quando realizamos e participamos da nossa primeira eleição direta, a novela aponta uma marca comum nas nossas relações de poder.

Se produzida ao final da primeira década dos anos 2000, muitas práticas do empresário Marco Aurélio (Reginaldo Faria) em parceria com o prefeito de Póvoas terminariam, no mínimo, com uma bela investigação da Polícia Federal. Resumidamente prefeito e empresário se juntaram para uma troca de favores básicas, que não beneficiariam ninguém além dos dois. Nada diferente do que acontece hoje.

Na edição de janeiro da revista Caros Amigos , por exemplo, podemos entender como o poder público atua em detrimento da população, em favor do interesse privado. Vemos um outro lado das obras que tanto orgulham brasileiros das 12 cidades sede da Copa ou ainda, do Rio de Janeiro que abrigará também Jogos Olímpicos. Obras superfaturadas, remoções ilegais e uma falta de cuidado com os cidadãos. Afinal, o legado desses eventos será deixado para eles. Uma alusão contemporânea para o que aconteceu na novela de Gilberto Braga.

Movimento Diretas Já
O interessante é que, na época de Vale Tudo, nossa democracia era bem jovem. Ainda passaríamos pelo primeiro processo de eleições diretas. Essa também foi a primeira vez que uma novela pôde criticar, abertamente, o momento político ou nossas práticas políticas. A corrupção, o torpe modus operandi daqueles que controlam o país via dinheiro ou influência política.

A consagração da novela, talvez deva-se a isso. Ter exposto nossa cara, como diz o tema de abertura, e nossas chagas de maneira tão desvelada. Naquela época, ainda sem saber direito o que era a democracia, na prática, víamos renascer o sistema já viciado. Das velhas práticas do coronelismo. Do abuso de poder. Do favorecimento do capital em detrimento do ser humano.

Naquela época fomos conclamados a mostrar a nossa cara e assumir nossas responsabilidades. Criar (ou recriar) nossa identidade como nação. Será que deu certo?

Colaborou
Cássia Ferreira Andrade - Jornalista
cassia.ferreira.andrade@gmail.com

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